25/08/2008 - 10h04 - CLAUDIO ANGELO
editor de Ciência da Folha de S.Paulo
Pesquisadores brasileiros acabam de se tornar sócios de um dos clubes mais exclusivos da astronomia. Eles vão usar dados de um telescópio nos Estados Unidos para procurar planetas gigantes fora do Sistema Solar e obter pistas sobre a evolução do Universo.
O tal clube, o SDSS (Sloan Digital Sky Survey), se auto-intitula "o levantamento astronômico mais ambicioso já realizado". Desde o começo da década, seus cientistas têm usado um telescópio com espelho de 2,5 metros de diâmetro para fazer varreduras sistemáticas do céu e desvendar a geografia do cosmo: como as galáxias se distribuem pelo Universo e por que elas estão onde estão.
Até agora, o projeto já detectou mais de 200 milhões de objetos celestes e ajudou a confirmar que uma energia misteriosa -a energia escura- está realmente acelerando a expansão do Universo. Também ajudou a rastrear os vestígios de galáxias que se chocaram com a Via Láctea no passado.
O astrônomo gaúcho Marcio Maia, do Observatório Nacional, compara o SDSS a "um boi com muito filé mignon". É tanta informação, diz, que é impossível digerir toda essa carne. E os sócios do clube, claro, têm prioridade de acesso aos dados. "Eles comem o filé e deixam o pescoço", compara Maia.
Na terceira fase do SDSS, que acaba de começar e vai até 2014, uma dúzia de astrônomos brasileiros de quatro instituições ganhou o direito de também sentar à mesa. O ingresso na parceria custou ao Observatório Nacional US$ 900 mil, e o trabalho envolverá pesquisadores das universidades federais do Rio, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte.
Os cientistas vão atacar três grandes questões: a energia escura, a composição química da Via Láctea e a estrutura e formação dos sistemas planetários extra-solares.
Este último estudo envolverá o mapeamento de 11 mil anãs-vermelhas, estrelas pouco brilhantes que até recentemente eram desprezadas pelos astrônomos, mas que ultimamente têm se revelado promissoras para a busca de outros mundos.
Além de observações astronômicas, como a de planetas gigantes, a terceira fase do SDSS vai estudar cosmologia. Os cientistas querem medir a velocidade das galáxias e ampliar o mapeamento já feito nas fases anteriores do projeto --usando, por exemplo, o infravermelho, que permite enxergar através de poeira e gás. A idéia, segundo Maia, é cercar os modelos teóricos que prevêem como o Universo funciona. "Os modelos terão de reproduzir a distribuição de galáxias observada", diz.
Saber isso é importante, porque esses modelos são alimentados por propostas teóricas do que poderiam ser as misteriosas matéria escura e a energia escura, que respondem pela maior parte da composição do cosmo, mas que ninguém sabe o que são. Replicar o funcionamento do Universo usando tais modelos significará que os cientistas estão no caminho de decifrar o mistério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário